Je fais j'agis j'acte
Je bouge mon corps
Je fais j'agis j'acte
Je bouge mon corps

A black town came into my dreams
Black eyed black monsters black gods

Al fondo del bote
te observo a remare
perdida la rota e la terra ferma

Têm todos uma maneira estranha de dizer as coisas!
Mal os vimos, tivemos logo um feeling. Esta d'orfusão vai ter himalaias de interesse! É verdade que ficámos meio apardalados com os da escola de circo. Os franceses! Isto é gente capaz de correr a maratona com os pés para cima! E em termos de fogo, já tenho visto muita coisa, mas eles deitam cada fogueira pela boca, que a d'Orfeu nem precisava de iluminação à noite.
Mas tudo estava nos conformes, se eles não fossem poetas! Poetas, isso mesmo! Deve ser por andarem sempre nas alturas, ou de cabeça às avessas, que ficam assim, a achar que o mundo tem carência de humanidade, de humanité, como eles dizem!
Os da escola de artes da Hungria são mais tipo "lagoa azul". Mais doces, mais meigos, mais rosamente enamorados, mais louramente nórdicos, mais passeantes sobre as nuvens, onde querem tocar com a voz e com a suprema leveza do ser, mais anjos rafaelitas.
Mas, surpresa mesmo trouxeram os italianos. Estávamos à espera de robertos, tuti robertos, tuti ragazos de sorrisão largo, olhos largos, bom giorno a qualquer hora, de camara em guarda, sempre prontos a encenar e vem um grupo de músicos, de gosto mais radical, com um leve saborzinho a brasileiro. E... brasileiro por brasileiro, nós não ficamos a dever nada a ninguém!
Mas a falar a verdade, ficámos formigueiramente nervosos!
Tínhamos quinze dias para mostrarmos que estávamos à altura!
Logo, no primeiro dia, falámos do nosso Pessoa, do nosso mar salgado, das nossas lágrimas e eles ficaram a perceber que ainda temos o sonho de partir, embrulhado na bruma, mas sonho sempre!
Depois, a pouco e pouco, fomos aprendendo a engolir o fogo e a vestir piruetas com poemas, com os franceses, a lavarmos a alma de azul, com aquele jeitinho de dançar a ternura, com os húngaros, a radicalizarmos as cordas das nossas guitarras e a arquitectarmos um banquete de pasta, com os italianos. Eles aprenderam também a partir e a sonhar connosco.
As nossas palavras dorfundiram-se. O nosso tempo dorfundiu-se.
E todos começamos a traduzir aquela palavra que nos arranha a alma como urtigas. Traduzimos d'orfusão que agora não é mais que saudade sonhadoramente circense e azul deste tempo de quase utopia, vivido dorfundidamente num quintal, com um pozinho de terra a cobrir-nos o corpo e uma imensa música a cantar-nos na alma.

Odete Ferreira