Que se me perdoe esta provincianice de oferecer um ramalhete de palavras ao público, depois do pano corrido. O festival internacional de musicómicos aconteceu, arte de palco mostrou-se, a televisão, a rádio e a imprensa escrita divulgaram, o nome de Recardães e de Águeda correu o país, o público acorreu, numa saudável evasão ao quotidiano, encheu o auditório do Centro Social de Recardães, e, durante uma semana, o Gesto da d'Orfeu apontou o caminho da noite.

Muita orelha se apurou!

Depois do até sempre da d'Orfeu, nem sequer é protocolar este meu escrito. Mas eu não gosto de alinhar em protocolos!

E por isso, que o gesto agora seja de leitura.

Antes do gabanço a penitência!

Neste caso, a penitência é nossa! Anda uma enorme dor de orelhas pela região e talvez ainda uma maior dor de rins. Se nos responsabilizamos por estes efeitos secundários de uma semana de gargalhadas, por outro lado devemos ter contribuído para uma descida nos valores da tensão arterial, efeito que tem o epicentro em Recardães, se espalha pelo concelho de Águeda, pelo distrito de Aveiro e vai contagiando a região centro. Analisando bem os factos, só nos falta prever a inclusão do Gesto Orelhudo nas receitas médicas, para o tratamento das hipocondrias, alergias, melancolias e outras dívidas do ser humano.

E agora as nossas palavras elogiosas. Desta vez, não vão para os artistas. Esses foram anunciados, analisados e avaliados com distinção, na sua grande maioria! Deixaram-nos sempre um espanto e um vazio. Sempre com aquele amargo final que só outro espanto é capaz de curar. Deve ser este o sabor preferido da alma.

Também os nossos apoiantes, os oficiais, os mecenáticos, os logísticos, os técnicos, os divulgadores, mereceram já o nosso reconhecimento. Eles são sempre a primeira pedra do edifício.

O público, esse é o seu telhado. O fim de qualquer festival. O destinatário de qualquer palco. O artista quer entrar-lhe na alma, remexer-lhe o sentir, espevitar-lhe as emoções, fazê-lo explodir de riso, de palmas, de movimento, de lágrimas, provocar-lhe, se possível, o aplauso. E se o final traduz esse percurso de sensações, o artista sente-se gratificado pelas horas sem conta de ensaio de um simples gesto, um texto, um poema, uma música, um movimento, pelo nervosismo que se instala nos bastidores, pela ansiedade com que aguarda a reacção do espectador.

E valeu a pena o nosso tempo na promoção de cultura.

Foi generoso e mecenático o saldo das vossas presenças, aplausos e ovações.

Foi relevante o vosso comentário, a vossa sugestão, a vossa crítica.

Foi gratificante a vossa gargalhada.

Foi muito Orelhudo o vosso e o nosso Gesto!



Odete Ferreira